sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Letras - UNEB


Acadêmicos de Letras da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)/ Plataforma Freire
Disciplinas ministradas: Língua Portuguesa I-60h/a; Oficinas de Semiótica - 60h/a; Literatura Portuguesa - 60h/a; Estágio II -135h/a

Resenha Crítica de Deyse e Cinthia - ENFERMAGEM


GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. Técnica de redação: O que é preciso saber para bem escrever. 2ª edição/2ª tiragem. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p.147.



Cinthia Câmara Rocha Silva[1]

Deyse Sabrinne de Souza Lopes [2]

Aderlan M. de Oliveira3



Lucília Garcez, licenciada em Letras pela Universidade Federal de Sergipe, mestre em Literatura pela Universidade de Brasília e doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em sua obra intitulada “Técnica de Redação – O que é preciso saber para bem escrever” traz uma abordagem acerca do processo de escrever, almejando desmistificar crenças cristalizadas que bloqueiam a elaboração e a fruição de um bom texto, além de evidenciar e esclarecer os mecanismos e habilidades envolvidas no ato da escrita, permitindo ao leitor compreender a importância do domínio desta no mundo contemporâneo.

A abrangência da referida obra contempla, dentre 147 páginas, oito capítulos que explanam inicialmente sobre as verdades e mentiras implicadas na progressão da técnica de escrever, elucidando de forma simplória que a dominação da escrita pode ser conquistada por todo e qualquer indivíduo através de muito esforço, dedicação e principalmente muita leitura, desestruturando a ideologia estereotipada que caracteriza o ato de escrever como um dom, um ato espontâneo.

Garcez (2008) contempla no segundo capítulo do livro explanações concisas que buscam instruir o leitor à prática da escrita, estimulando-o a refletir sobre a necessidade da releitura e da reestruturação das produções para o alcance da satisfação. A utilização de fragmentos textuais de escritores como Gabriel Márquez e Paulo Campos para exemplificar a contextualização capitular é um recurso fantástico que auxilia o interlocutor a compreender a articulação das ideias presentes no capítulo.

O terceiro capítulo da obra fundamenta com muita clareza e especificidade sobre a influência e a importância do ato da leitura no processo de aderência de conhecimentos e agilidade para o exercício da escrita, evidenciando a interrelação existente entre o ler e o escrever. O enredo do capítulo abrange, ainda, procedimentos inteligentes que encaminham o apreciador da obra a desenvolver uma leitura produtiva, estigando-o à prática constante desse hábito.

O desenvolvimento das ideias ao longo do livro flui de forma coerente, intercalando progressivamente a essência de cada capítulo. Nessa perspectiva, o quarto capítulo é estruturado visando detalhar e enfatizar o intercâmbio existente entre os domínios da leitura e da escrita, mencionado no capitulo anterior. Para a concretização desse objetivo a autora explana sobre recursos como resumos, esquemas e paráfrase, que auxiliam o leitor a consolidar as informações adquiridas em leituras e a conquistar um acervo mental amplo que facilita a elaboração de textos.

A descrição do quinto capítulo engloba as decisões preliminares fundamentais para orientação da produção textual. Por meio de uma explicação rebuscada, Lucília Garcez estabelece o valor do planejamento na gênese do desenvolvimento da escrita. Afirma com propriedade que é preciso estabelecer os objetivos para determinação da função da linguagem e do gênero textual que irão preponderar no texto.

O sexto capítulo compreende elucidações organizadas, bem articuladas, que dão enfoque à organização e à hierarquização das ideias que devem ser previamente selecionadas para composição da escrita. Com grande maestria são empregados trechos de textos de José Castello e Marilena Chauí para exemplificar o processo de ordenação das ideias.

A coesão textual é a referência que norteia o sétimo capítulo. A autora busca focalizar o entrelaçamento das ideias e dos elementos gramaticais optados para construção textual, através das diversas variações de coesão (referencial, lexical, elipses e substituições), explicando, sem complexidade, que a manutenção da unidade de uma produção e a garantia da sua coerência é resultado do usufruto de elos coesivos. O referido capítulo enfatiza ainda, problemáticas decorrentes da ausência de coesão como: truncamentos semânticos, ambigüidade, confusão.

O capítulo final do livro traz reflexões respeitáveis sobre a importância da releitura como um instrumento de aperfeiçoamento do texto, que possibilita a reestruturação e a reescrita deste. Nesse contexto, Garcez (2008) discute acerca da revisão de aspectos como a impessoalidade, vocabulários, pontuação, estrutura de períodos, visando despertar no redator a aptidão para a conquista de um texto satisfatório.

As páginas finais da obra contemplam respectivamente uma bibliografia comentada de apoio ao aluno e uma bibliografia para aprofundamento, recursos de grande valia para orientar o leitor diante da gama de literaturas existentes que tratam da temática em questão.

A obra “Técnica de Redação – O que é preciso saber para bem escrever” é elaborada sob ideias originais, sendo inovadora ao propor ao final de cada capítulo exercícios estimulantes para o desenvolvimento da prática da escrita. Por possuir uma linguagem pouco rebuscada e muita precisa, é altamente recomendável para qualquer público que anseie aperfeiçoar sua capacidade de produção textual, como também para estudantes e professores que tratam com redação e linguagem. Apesar de englobar algumas redundâncias ao longo de suas contextualizações, o livro contribui magnificamente para aprendizagem das habilidades de um redator competente. Diante de uma obra tão envolvente, que permite compreender as articulações da escrita, resta afirmar que a sua leitura é indispensável.







[1] Acadêmica do curso de Enfermagem da Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB).
[2] Acadêmica do curso de Enfermagem da Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB) e Técnica em Edificações (IFBA).

3 Especialista em Psicopedagogia (FASB), Licenciado em Letras Vernáculas (UNEB) e Bacharelando em Direito (FASB). Professor da disciplina Metodologia Científica I do curso de Enfermagem da Faculdade São Francisco de Barreiras - FASB.

Análise crítico-científica do filme "Óleo de Lorenzzo


O Óleo de Lorenzo. Direção: George Miller. Produção: George Miller e Doug Mitchell. Roteiro: George Miller e Nick Enright, 1992. DVD (2h e 15 min).

Análise crítica do filme “O Óleo de Lorenzo”

Deyse Sabrinne de Souza Lopes[1]

Jannine Rêgo de Souza [2]

Aderlan M. de Oliveira3



A investigação científica, marcada pela interação de métodos e técnicas de pesquisa científica, é uma abordagem claramente evidenciada no filme “O Óleo de Lorenzo”, dirigido por George Miller, por meio da história de um garoto chamado Lorenzo, que é acometido aos seis anos de idade pela Adrenoleucodistrofia (ALD), uma doença genética incurável caracterizada pela degeneração progressiva do cérebro, motivada pela deficiência metabólica de ácidos graxos. A inexistência de tratamentos específicos para a mencionada doença, bem como a imprecisão médica quanto a sua fisiopatologia, são fatos que motivam os pais do menino, Micaela Odone e Augusto Odone, a pesquisarem sobre a ALD com o intuito de compreendê-la e de descobrir mecanismos de terapias para detê-la.  Ao longo do filme, pesquisas e experimentos são realizados pelos genitores de Lorenzo até descobrirem um óleo específico como um recurso para contenção do avanço da patologia.

O decorrer do longa metragem demonstra nitidamente a presença de elementos que compõem  uma pesquisa científica como  problema, hipóteses, objetivos e metodologia (métodos científicos e  tipos de pesquisa). Um exemplo evidente de problema é perceptível na cena em que os pais de Lorenzo, instigados pela dúvida, se questionam o porque da elevação dos níveis de ácidos graxos de cadeia longa no organismo do menino, já que haviam privado-o do consumo destes lipídeos  através de uma dieta alimentar especial. Hipóteses, por sua vez, podem ser detectadas nas cenas em que os médicos e os pais tentam desvendar a doença do garoto, supondo que os sintomas apresentados por este poderiam indicar hiperatividade, deficiência auditiva ou contaminação parasitológica. As cenas que apresentam a busca dos pais por um tratamento eficaz que reprimisse a Adrenoleucodistrofia indicam uma exemplificação de objetivo.

É de grande valia destacar que o filme em questão vislumbra tipologias distintas de pesquisa científica, dentre as quais pode-se citar as pesquisas exploratória, bibliográfica, explicativa e experimental.

No âmbito da pesquisa exploratória, que prima pelo desenvolvimento e esclarecimento de ideias a fim de estabelecer os pilares que sustentarão estudos mais consolidados sobre o tema pesquisado, pode-se destacar como exemplo as cenas que retratam a luta incessante dos senhores Odone na busca pelo entendimento da enfermidade do filho, consultando especialistas, médicos, cientistas que pudessem aclarar os princípios da doença.

As cenas que demonstram a utilização de referências bibliográficas pelos pais de Lorenzo como fontes de coletas de dados para compreensão da ALD, indicam a presença da pesquisa bibliográfica.

De acordo com Elisa Gonçalves (2003, p.66) a “pesquisa explicativa pretende identificar os fatores que contribuem para a ocorrência e o desenvolvimento de um determinado fenômeno”. Nesse contexto, é plausível mencionar como exemplo as cenas em que o médico explana aos genitores do menino sobre os fatores genéticos maternos responsáveis pelo surgimento da doença em jovens do sexo masculino.

A análise da conjuntura da pesquisa experimental, determinada pela manipulação direta de experimentos no alvo de estudo, pode ser detectada nas cenas em que o óleo de Lorenzo é ministrado ao garoto como uma forma de avaliar sua eficácia na no controle da patologia.

Segundo Odília Fachin (2001, p.27) o método científico “é um instrumento do conhecimento que proporciona aos pesquisadores, em qualquer área de sua formação, orientação geral que facilita planejar uma pesquisa, formular hipóteses, coordenar investigações, realizar experimentos e interpretar resultados”. Nesse sentido, é possível afirmar que métodos científicos diversos (método dedutivo, observável, comparativo, experimental e dialético) permeiam o filme norteando as investigações e pesquisas acerca da ADL.

O método dedutivo fundamenta a busca de uma verdade partindo de generalizações (verdades universais) para particularidades. Sobre essa ótica, nota-se a presença do referido método nas cenas em que o médico afirma que indivíduos acometidos pela ADL falecem, normalmente, dois dias após o diagnóstico (generalização), e que Lorenzo, sendo um portador da doença ,teria esse prazo de vida (particularidade).

O método observável, caracterizado pela análise e pelas percepções sensoriais dos fenômenos estudados, é focalizado no filme nas cenas em que a professora de Lorenzo passa a observar suas alterações comportamentais desencadeadas da sintomatologia da doença, bem como as cenas que demonstram o senhor Odone observando os efeitos do óleo ministrado ao filho.

O método comparativo, qualificado pela abordagem comparativa, parte de associações entre duas vertentes análogas almejando desvendar entre ambos alguma característica semelhante, em comum. O longa metragem evidencia tal método nas cenas em que os senhores Odone comparam a estrutura funcional de uma pia de cozinha com a estrutura funcional sintetizadora e armazenadora de ácidos graxos do organismo do filho.

O método experimental é fundamentado na articulação de experiências executadas sobre o fenômeno/objeto de estudo, objetivando o exame dos efeitos gerados pela experiência e/ou a comprovação de implicações preestabelecidas. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que muitas cenas elucidam o método citado, a exemplo das que retrataram as experiências referentes à imunossupressão, à dieta alimentar privada de ácidos graxos, além dos experimentos com o óleo de Lorenzo.

O método dialético, caracterizado por enfocar as argumentações e à retórica como mecanismos de contraposição e contradição de ideias que levam a outras ideias, compreende outro método presente no filme, evidenciado nas cenas que demonstram as discussões em torno da Adrenoleucodistrofia no I Simpósio Internacional de ADL.

O filme “O Óleo de Lorenzo” ao contemplar em seu enredo os aspectos e fundamentos do conhecimento científico, demonstrando a investigação científica como um recurso de aderência de respostas e soluções que justificam/explicam um determinado problema, permite-nos compreender, de forma emocionante, que as verdades universais não são absolutas, sendo passíveis de mudanças.  Diante disso, pode-se afirmar que a descoberta do óleo de Lorenzo como uma forma de tratamento para a Adrenoleucodistrofia, firma a mutabilidade das verdades universais, permitida pelas pesquisas científicas, como um meio de se conquistar avanços científicos e mais que isso, como um meio de amenizar sofrimentos e poupar vidas.





[1] Acadêmica do curso de Enfermagem da Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB) e Técnica em Edificações (IFBA).
[2] Acadêmica do curso de Enfermagem da Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB).
3 Especialista em Psicopedagogia (FASB), Licenciado em Letras Vernáculas (UNEB) e Bacharelando em Direito (FASB). Professor da disciplina Metodologia Científica I do curso de Enfermagem da Faculdade São Francisco de Barreiras - FASB.

Análise crítico-científica do Filme: “Óleo de Lorenzo”


CÍNTIA RESENDE DE CARVALHO LEITE
IONE DOS SANTOS OLIVEIRA ARAÚJO


O filme “Óleo de Lorenzo” do diretor George Miller, baseado em fatos reais, relata a história do casal Augusto e Michaela Odone, que tem suas vidas totalmente transformadas após diagnóstico médico sobre seu filho Lorenzo, apenas cinco anos de idade, acometido pela doença adrenoleucodistrofia (ALD), que degenera e afeta o sistema neurológico, causando a perda dos movimentos, da voz, cegueira, entre outros. A ALD não tem cura, nem tratamento e a expectativa de vida é no máximo três anos.

Não aceitando o diagnóstico, os pais de Lorenzo buscaram através de pesquisas bibliográficas e documental, em livros, artigos e documentos, conhecer melhor sobre a ALD, e assim tentar solucionar o problema do filho.

Após diversas pesquisas, os pais de Lorenzo chegaram a conclusão de que a ALD se caracteriza pelo acúmulo de ácidos graxos saturados de cadeia longa, na maioria das células do cérebro, levando a destruição da bainha de mielina que protege determinados neurônios, e sem a mesma o sistema neuronal fica incapacitado, causando os sintomas da doença. Sabendo disso, levantaram a hipótese de que inserindo um novo tipo de gordura na alimentação do filho diminuiria a produção exagerada de gorduras produzidas pelo organismo, acreditando que evitaria a destruição da mielina.

Para tanto, Augusto e Michaela utilizaram o processo hipotético – dedutivo, ao qual não leva a certeza, mas a tentativa e eliminação de erros, pois não aceitavam passivamente o que os médicos diziam e assim estudavam para encontrar algo que, pelo menos, amenizasse o sofrimento do filho.

Em uma de suas pesquisas e investigações dos fatos passados acerca da ALD, método histórico, Augusto encontrou mais de 17 casos existentes, em seguida entrou em desespero, ao analisar que em todos os casos, os portadores dessa doença ficavam cegos, surdos, mudos e aos poucos eram levados a óbito. Na perspectiva de Nascimento (2002) este método tem caráter teórico e através dele busca-se as causas e as origens das definições das ideias.

Na tentativa de buscar a cura para Lorenzo, eles conseguiram uma junção de óleos e introduziram na alimentação do menino, utilizando do método experimental, que de acordo com Nascimento (2002, p.26) “consiste na observação, manipulação e controle do efeito produzido em uma dada situação”, haja vista que usaram o próprio filho como cobaia para tentar a cura para a ALD.

Mesmo diante dos fatos, Augusto e Michaela não desistiram. Observavam Lorenzo constantemente para detectar alguma reação no organismo em relação à doença,configurando-se esta atitude no método observável.

Também utilizavam o método comparativo para verificar as reações de Lorenzo em relação a nova dieta, e através desse procedimento perceberam a diminuição de gordura produzida pelo organismo, após a nova alimentação, fato não ocorrido com a antiga dieta.

Através da tipologia, que se caracteriza pela investigação da realidade e comparação dos fenômenos sociais, os pais do garoto investigaram os resultados dessa mistura de óleos no organismo de Lorenzo e perceberam que o mesmo provocou mudanças significativas, descoberta benéfica não só para seu filho, mas para todas as crianças portadoras de ALD.

Dessa forma, com a finalidade de acompanhar a doença do filho, Augusto e Michaela, utilizavam da estatística para descrever quantitativamente os resultados dos exames laboratoriais de Lorenzo, repassados pelos médicos. Esses resultados eram colocados em gráficos, para melhor visualização nas mudanças quantitativas obtidas nos exames, produzindo assim mudanças qualitativas na vida de Lorenzo, processo esse chamado de dialético.

Além disso, mesmo não sendo médico, Augusto tenta interpretar as hemácias utilizando-se de clipes para compreendê-las, o que se denomina de método funcionalista, pois tenta entender as partes que compõe as hemácias. Ao passo que fazia pesquisas acerca da doença ALD, sobre as hemácias, tentava levar o que aprendeu para o caso de Lorenzo, utilizando-se do processo estruturalista, pois segundo Nascimento (2002, p.20) “este método procura compreender a realidade, inclusive a social, como necessariamente regida por leis”.

Graças ao estudo do caso de Lorenzo, seus pais descobriram a mistura de óleos capaz de reverter as consequências da ALD e conseguiu obter generalização desses resultados para outras crianças com esta doença, denominando-se de método monográfico, porque o resultado obtido para um caso pode ser generalizado.

Para chegar a esse resultado excepcional, que levou Lorenzo a viver por 30 anos, considerado “um milagre” para a medicina, Augusto e Michaela utilizaram da pesquisa descritiva, ao descrever as características positivas alcançadas com o óleo para os pais de crianças que também tem a doença, durante uma reunião na Fundação de Famílias ALD.

Os pais de Lorenzo também fizeram pesquisa exploratória, quando recolhia e registrava fatos relacionados com a ALD, pesquisando material bibliográfico na biblioteca e em seguida levava suas conclusões ao médico, para lhes auxiliar com explicações, pesquisa explicativa, se poderia dar certo algum procedimento novo, e logo depois fazia os experimentos no filho com a finalidade de curá-lo, através da pesquisa experimental.

A pesquisa de Campo foi ministrada pelos pais de Lorenzo, no momento em que acompanharam através da Fundação de famílias ALD, o dia a dia e o que pensavam os pais das outras crianças que tinham a doença da adrenoleucodistrofia.

Cabe ressaltar, que por causa dessa pesquisa devidamente estruturada e embasada cientificamente, Augusto conseguiu não só prolongar a vida de seu filho, Lorenzo, como deixou uma grande descoberta para a sociedade, o que lhe resultou em um certificado de médico, mesmo sem ter cursado alguma faculdade, pois foi levado em conta que ele produziu ciência benéfica para todos dessa e das futuras gerações.





REFERÊNCIAS





MORRE Lorenzo Odone, que inspirou o filme "O Óleo de Lorenzo". Disponível em:<http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/afp/2008/05/31/ult32u19292.jhtm>. Acesso em: 30 ago. 2011.

NASCIMENTO, Dinalva Melo de. Metodologia do Trabalho Científico: Teoria e Prática.  Rio de Janeiro: Forense, 2002.

O ÓLEO de Lorenzo. Direção: George Miller. Produção: Doug Mitchel e George Miller. Intérpretes: Nick Nolte; Susan Sarandon; Peter Ustinov; Zack O’malley Greenburg e outros. Universal Pictures Internacional B.V.; Microservice Tecnologia Digital da Amazônia, 1992. 1 DVD (129 min.), son., color.




Resenha Crítica de Ana Benedita e Marilete - Enfermagem


GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. Técnica de redação: o que é preciso saber para bem escrever. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004



Ana Benedita Fernandes da Silva Cordeiro[1]

Marilete da Silva Santos Lima[2]

Aderlan Messias de Oliveira³



A obra “Técnica de Redação: o que é preciso saber para bem escrever”, de Lucília Helena do Carmo Garcez, graduada em Letras pela Universidade Federal de Sergipe, com mestrado em Literatura pela Universidade de Brasília e Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e escrita em oito capítulos, distribuídos nas 150 páginas, em que a desafia o leitor a uma mudança de atitude em relação à escrita e consequentemente a leitura enfatizando a importância do bem escrever para se produzir um bom texto.

No primeiro capítulo Garcez (2004) fala dos mitos que cercam o ato de escrever, desenvolvidos em quatro tópicos como verdades e mentiras em que relata mitos a respeito da produção de texto, as falsas crenças, os mitos mais frequentes em relação à escrita deixando bem claro que com força de vontade e perseverança todos podem escrever bem.

Segundo a autora em questão a escrita é uma construção social, coletiva, tanto na história humana como na história de cada indivíduo. Como diz o renomado autor brasileiro José J. Veiga (apud Garcez, 2004, p.2), até mesmo o talento, vocação ou dom dependem de muita persistência e dessa forma chega à conclusão de que todas as pessoas podem produzir bons textos. Claro que não fácil como pensam, pois requer conhecimentos relativos ao assunto a ser tratado, bem como a agilidade mental e aspectos envolvidos na escrita são imprescindíveis para a formação de textos bem sucedidos.

Para Garcez (2004), escrever é uma prática que se articula com o hábito da leitura, sendo assim, impossível um mau leitor chegar a escrever com desenvoltura, como também a importância da escrita no mundo moderno vinculado a práticas sociais.

No segundo tópico do referido capítulo Garcez(2004) fala de “Reconsiderando crenças”, pondo em evidência que qualquer pessoa pode ser um bom redator, mas exige muito empenho, pois escrever não é tão fácil e mesmo diante de “dicas” oferecidas por professores e colegas não é o suficiente para a elaboração de um texto fluente, claro, adequado e que os truques podem ajudar, aos redatores que estão em um processo de andamento, contribuindo para esclarecer pontos duvidosos ou obscuros da escrita e da organização do texto, embora não funcionem isolados de muitos exercícios.

No terceiro tópico Garcez (2004) relata novas atitudes em relação à escrita salientando alguns pontos fundamentais na elaboração de um bom texto no qual a escrita e leitura são destacados. E no quarto tópico a mesma aponta a prática de escrita trazendo o leitor a uma retrospectiva escolar fazendo narrativas ajudando-o a desbloquear a mente e desenferrujar a mão.

O segundo capítulo aborda o ato de escrever enfocando a importância de se compreender a prática da escrita por depoimentos de pessoas que escrevem com desenvoltura, com precisão, como relatado pela escritora Lygia Fagundes Telles, da luta do escritor com as palavras para chegar ao objetivo com paciência, humildade e humor.

A escrita se faz por processos que são abordados pela autora, por informações, hipóteses de produção de texto, bem como a motivação para a escrita e leitura, pois memória vazia produz textos fracos. Não esquecendo da ortografia, pontuação, acentuação, concordância, regência que podem passar despercebidos e assim prejudicar a fluência e continuidade do texto.

Para Garcez (2004) o bom escritor é aquele que lê, re lê, corrige, reescreve várias vezes e se conscientiza de que para redigir de forma mais produtiva é necessário revisar simultaneamente parcelas do texto, aceitar sugestões de colegas e assim poder publicá-los.

No terceiro capítulo a qualidade da leitura é de grande importância. Não se consegue desvincular escrita e leitura. Através da leitura se constrói uma intimidade muito grande com a língua escrita, sendo primordial no enriquecimento da memória, do senso crítico e do conhecimento de diversos assuntos acerca do que se pode escrever.

Para a referida autora a leitura precisa ser analisada e compreendida e ler não é tão fácil como se pensa, é necessário entender o vocabulário e organizar as frases, identificar o tipo de texto e o gênero, ativar as informações antigas e novas sobre o assunto, assim percebe-se que a língua, os gêneros, os tipos de texto e o assunto são importantes na compreensão de um texto e dessa forma a leitura torna- se produtiva.

No quarto capítulo Garcez (2004) reforça a importância da leitura e escrita, explicando como deve ser trabalhada a memória uma vez que a mesma é muito seletiva, da mesma forma a relevância dos resumos, esquemas e paráfrases e assim chegando a síntese.

Já no quinto capítulo ressalta que decisões precisam ser tomadas antes e durante um trabalho de escrita para se ter um bom texto. Entre estas decisões estão as estruturas de linguagem a seres usadas, qual o gênero de texto mais adequado, quais os objetivos do texto e qual informação transmitir e assim refletir sobe estas decisões no texto a ser produzido.

No capítulo sexto a autora em destaque fala das ideias que precisam ser ordenadas. Para se escrever um texto, como já foi mencionado nos capítulos anteriores, passa-se por muitas etapas que vão sendo desenvolvidas ao decorrer da escrita. Este processo começa com muitas anotações sem organização e desordenadas para não perder as ideias surgidas. Depois é feita uma releitura para ordenar estas ideias e serem excluídas as incompletas, deixando somente as consideradas interessantes para o assunto escrito, fazendo o resumo das centrais. Através das ideias principais podem ser elaboradas ideias secundárias, detalhes, exemplos. A partir do pequeno texto inicial como fio condutor, o desenvolvimento pode seguir as vertentes sugeridas pelo próprio assunto, como afirma a autora em questão.

O entrelaçamento das ideias, segundo a autora, é o tecido aparente do texto, bem explicado no capítulo sétimo, em que enfoca muito a respeito da coesão textual e os problemas decorrentes da ausência desta coesão que levam a desordem nas ideias e dificuldade na compreensão do leitor. Dessa forma, reler o texto a ser produzido identificando os recursos de coesão garante fidelidade às ideias a serem apresentadas.

Por fim no oitavo capítulo Garcez (2004) dá ênfase na reescrita de textos passando ao redator a importância de se tomar o lugar do leitor, para assim conseguir uma ótima avaliação textual, bem como pode também ser útil o envolvimento de colegas, professores, pais, irmão ou companheiro, neste processo de reescrita.       

Para Garcez (2004) o autor não tem interesse em deixar explícita sua voz, prefere adotar uma posição impessoal e diante de maneiras de conseguir esse objetivo abrange algumas delas como: generalizar o sujeito; ocultar o agente; colocar um agente inanimado; uso gramatical do sujeito indeterminado; uso da voz passiva.

O uso de vocabulário, estrutura de períodos, pontuação, ortografia e o uso do sinal indicativo de crase são tópicos desenvolvidos neste capítulo, em que a autora aponta como fundamentais para se ter texto bem estruturado.

Diante disso percebe-se que a obra em estudo, com amplos conhecimentos de forma lógica e coerente e de linguagem de fácil compreensão, com técnicas e habilidades para bem escrever, é destinada a todo o público que pretende desenvolver bons textos, a estudantes ajudando-os no convívio mais natural com a escrita e assim a facilidade de se produzir bons textos, e a professores na contribuição de conhecimentos, visto que é notável pela autora o prazer e persistência na leitura e escrita.                    



[1] Acadêmica do Curso superior de Enfermagem (FASB)
2 Acadêmica do Curso superior de Enfermagem (FASB)
3 Especialista em Psicopedagogia (FASB), Licenciado em Letras Vernáculas (UNEB) e Bacharelando em Direito (FASB) e professor de Metodologia Científica no curso de Enfermagem da FASB

Resenha Crítica de Raquel Gonçalves - Direito


SHAKESPEARE, William. O Mercador de Veneza. Disponível no site www.helenabarbas.net/traduções/Mercador de Veneza. Acesso em 02 de abril de 2012.

Resenha Crítica
Acadêmica Raquel Câmara da Rocha Gonçalves - Direito 

A obra “O Mercador de Veneza” de William Shakespeare, dramaturgo e poeta inglês, aborda, de maneira cômica e um tanto dramática, o contexto social de Veneza em meados do século XVI. Judaísmo é conflitado com Cristianismo; a teoria do contrato é posta em discussão, bem como a importância do uso da retórica ao profissional de direito, sendo necessário por esse motivo, um conhecimento prévio por parte do leitor na área jurídica. O autor utiliza-se de uma linguagem mista, oscilando entre o sofisticado verso e a modesta prosa, dando lugar também ao uso de termos jurídicos.

O livro de divide em cinco atos, nos quais o confronto entre judeu e cristão se dá pelos respectivos personagens: Shylock e Antônio. Ambos emprestam capital, porém, o fato de o semita cobrar juros os fazem grandes rivais. Acontece que Antônio se vê quase que obrigado a tomar um empréstimo para ajudar seu amigo Bassânio, prestes a fazer uma viagem para conhecer a jovem Pórcia, que está à procura de um marido. Recorre então a Shylock, seu principal adversário, que aceita negociar com a seguinte condição: Se a dívida não fosse paga até a data estabelecida, poderia o credor retirar uma libra de couro do devedor no local mais próximo ao coração; estabelecendo desse modo, um contrato entre as partes, devidamente aceito pelas leis venezianas.

Os dias passam, Bassânio viaja; o prazo de esgota e o mercador não consegue quitar a dívida, pois estava quase em falência, já que seus negócios não iam bem. Em seguida, o judeu trata de tomar suas providências levando o caso à justiça. Em meio a isso, Bassânio, que já se encontrava casado, toma conhecimento da situação e decide viajar para pelo menos poder ver o seu amigo pela última vez.

Perante o tribunal, o semita dispara com um discurso capaz de comover o leitor acerca da situação em que vivera todos esses anos, remetendo-o ao triste caso do Holocausto Judaico e justificando, ao menos por um momento, seus sentimentos de rancor e ira em relação aos cristãos. Já não interessava-lhe a quantia emprestada, e sim uma libra de couro do rival, a qual praticamente já era sua.

Em meio a isso, surge Pórcia na figura de Baltazar, um jovem advogado. Percebe-se a grande fragilidade do sistema judiciário, a tal ponto de não conhecer uma mulher com um disfarce tão simplista, que seria facilmente identificada. O fato é que ela, como toda sua perspicácia, conseguiu reverter a situação, alegando que o contrato não previa uma só gota de sangue, ficando assim impossível a retirada do couro. A decepção do judeu foi ainda maior quando ficou determinado que metade de seus bens passariam a ser propriedade do estado.

Trazendo essa obra à nossa realidade, presume-se que o contrato nela firmado pode ser considerado nulo, embora lavrado em cartório. Acontece que Shylock agiu de má-fé no momento em que disse que a condição imposta seria brincadeira bem como por saber que os negócios do rival não iam muito bem, assim, ficaria provável que este não lhe pagasse. Não obstante a isso, observa-se que as condições pautadas no acordo ferem a um direito indisponível: A integridade da pessoa humana; além de não respeitar os limites da ordem pública, sobrepondo a vontade individual à coletiva.

De forma dogmática e minuciosa, Pórcia interpretou gramaticalmente o contrato, levando em consideração somente o que nele estava expresso, uma só gota de sangue que fosse derramada caracterizaria violação do contrato e crime de lesão corporal. Apesar da brilhante defesa, poderia ela ser condenada por falsidade ideológica, incorrendo também seu primo Belário, que lhe dispôs falsamente o título de advogado para prestação de serviço de caráter público. Através desse contexto, Shakespeare mostra a importância da argumentação e retórica ao profissional de direito, que tem como dever básico zelar pela justiça.

 Em suma, o livro “O Mercador de Veneza” torna-se um mediador entre a razão e a emoção humana, visto que o autor, em momento algum deixa transparecer sua posição em relação aos conflitos, pois do mesmo modo que mostra a situação de Shylock por ter a lei ao seu lado, traz Antônio, que tem como respaldo o seu direito indisponível, considerando os bons costumes e o fator social. Diante disso, cabe ao leitor assumir seu papel crítico e julgar conforme a extensão de seu conhecimento.

Resenha Crítica de Tatyana Mello - Direito


FULLER, Lon L. O Caso dos Exploradores de Caverna. São Paulo: Leud, 2003.

Resenha Crítica da obra “O Caso dos Exploradores de Caverna”, por Tatyana Mello Lima.


A obra “O Caso dos Exploradores de Caverna”, escrita em 1949, pelo professor da Harvard Law School, Lon L Fuller, é fonte de profundas discussões em vários cursos de direito no mundo, por abordar assuntos pertinentes a esta área de atuação, visando introduzir, principalmente aos iniciantes acadêmicos, as diferentes nuances da interpretação da lei, do ponto de vista das filosofias jurídicas, do Direito Natural (Jusnaturalismo), do Direito Positivista (Juspositivismo) da jurisprudência e até mesmo do ponto de vista do senso comum.

O livro caracteriza-se por ser uma ficção que se desenrola no ano de 4299, no condado de Stowfield, apresentando como personagens cinco membros amadores da sociedade espeleológica que ficaram presos durante 32 dias dentro de uma caverna após um desmoronamento que bloqueou completamente o único acesso de saída. Durante este período, o autor criou um enredo envolvente abordando, através das vítimas, uma situação extrema de luta pela sobrevivência, ressaltando sentimentos de medo, insegurança, resolutividade e instinto de preservação.

Durante o período em que estavam presos, equipes de resgate foram enviadas ao local, porém somente no vigésimo dia os exploradores descobriram um rádio que permitiu contato com o resgate. Foram notificados que ainda ficariam confinados, pelo menos uns dez dias e que não havia chances de sobreviver com os mantimentos que dispunham. Então, Whetmore, um dos exploradores, sugeriu a medida extrema de sacrificar um dos confinados, por sorteio e cometer antropofagia[1] para sobrevivência dos demais.

Somente após o resgate é que se desenvolve o impasse central da obra: a morte de um dos confinados. Através dos depoimentos dos quatro sobreviventes, são narrados os acontecimentos, nestes, dois fatos foram pertinentes: a desistência Whetmore do sorteio e a desconsideração da recusa pelos demais companheiros. O sorteio foi realizado e o resultado foi contrário a Whetmore. Ele foi sacrificado e serviu de alimento para seus companheiros.

Os companheiros foram indiciados pelo homicídio de Roger Whetmore. No julgamento na primeira instancia, o juiz declarou os réus culpados com a condenação à pena de morte. O enfoque jurídico baseou-se na aplicabilidade da lei positivista, que tem como premissa o rigor desta, ignorando os aspectos subjetivos da moral. A pedido dos jurados e do próprio juiz, o caso foi encaminhado ao executivo solicitando anistia ou comutação da pena dos réus. Diante do impasse, a execução da pena foi adiada até o parecer da suprema corte. Cabe registrar que é dever do Judiciário analisar, julgar e sentenciar os casos que lhe são apresentados, o fato de incumbir o poder executivo de uma função de sua competência já demonstra fragilidade em sua estrutura.

Na suprema corte o caso foi apreciado por cinco juízes, dos quais dois consideraram os réus inocentes; dois outros, culpados; e um não se manifestou. Como critério de desempate a suprema corte considerou a sentença da primeira instância e determinou os réus culpados sob a aplicação da pena de morte por enforcamento.

Na análise das sentenças proferidas observa-se que a conduta dos juízes que inocentaram os réus baseou-se no enfoque do jusnaturalismo (Direito Natural) e nos princípios da moral, numa abordagem zetética empírica pura, quando busca compreender a origem do ato em diversos contextos científicos, tais como aspectos sociológicos, psicológicos; bem como na abordagem zetética analítica pura, quando vem questionar a real legalidade da lei, seus dogmas, uma vez que esta deve se adequar aos costumes da atual sociedade. Para estes juízes, os réus, por estarem em situação extrema e privados do amparo do Estado, encontravam-se em Estado de Natureza[2]. Desta forma não respondiam mais as leis positivistas às quais eram submetidos, passando a celebrar um novo pacto social por eles elaborado.

A inocência dos réus se baseou na teoria da legalidade do contrato social[3], criado dentro da caverna numa situação de risco de vida, dentre essas regras, previa que um dos exploradores seria sacrificado e que o sorteio seria feito por dados, como um método de escolha, método este que se baseava na cientificidade da matemática. A formação do contrato também fica caracterizado quando os réus referiram o ato de má fé da vítima quando se negou a participar do sorteio, ou seja, foi contra uma regra criada por eles na intenção de preservação da vida, teoria explicada pelo juiz Foster sendo a da legítima defesa.

Complementando o raciocínio, o Estado é feito para o povo e pelo povo, e este deve ter um sistema jurídico que haja mediante o pensamento crítico, analítico e sistêmico, embasado em um pensamento filosófico sólido, puro, e livre de subjetividades ocultas que desviem do foco de fazer a justiça e de se estabelecer uma equidade. Foster afirma que assim como na sociedade, em que o cidadão e o governo se completam, a aplicabilidade da lei deveria pautar-se no direito natural e também positivista simultaneamente, para que o julgamento possa ser coerente com a realidade individual e social. Deve-se ter muito cuidado para não perder contato com o “homem” e desta forma desburocratizar o processo a fim de que este não demore tempo demais e perca sua real função social de criar melhores condições de vida para o cidadão e para a sociedade.

Os dois votos de acusação basearam-se nos princípios positivistas da doutrina dogmática e da racionalidade. O Juiz Truepenny se limita a executar sua tarefa de relator do caso e aplicabilidade da lei e da sentença dada em primeira instância. Não proferiu críticas durante sua explanação e reforçou a opção da clemência por parte do executivo. Porém, como referido, cabe ao judiciário julgar e sentenciar, e ao executivo, criar as leis. Foi por esta linha de raciocínio que o jurista Keen direcionou uma de suas argumentações. Para ele as leis são feitas pelo homem e para o homem, pois ele elege quem as faz. Afirmou também que cabe ao juiz aplicar a lei, a priori, independente de seu julgamento emocional. “Uma decisão difícil nunca será uma decisão popular”. Durante seu discurso dirigiu várias críticas aos juízes que inocentaram os réus, no que diz respeito à sua forma de atuação, que busca as brechas da lei e que não estão cientes dos perigos implícitos nas concessões e sofismas. E finalmente aplica a linguagem do estatuto no que se refere a retirar a vida de alguém é considerado culpado.

O juiz Tatting manifestou-se incapaz de proferir uma decisão sobre o caso por não haver uma lei que fundamentasse sua decisão, porém durante sua argumentação faz outros questionamentos pertinentes ao caso. No que diz respeito aos limites de atuação da lei, como delimitá-la de forma justa? O juiz é indicado para julgar sob as leis locais. Pode ele julgar, neste caso, pela lei natural? Quem pode afirmar que a vítima não foi coagida ou induzida a concordar? A teoria fornecida pelos réus realmente é a verdadeira? Ele critica claramente os argumentos de legítima defesa, uma vez que os réus e a vítima premeditaram por horas, quem seria e de que forma seria feito o assassinato. Assim como o juiz Keen, ele fala sobre o risco ao se contestar as leis existentes, pois colocam em risco o equilíbrio e a segurança futura da sociedade, pois abrem precedentes, “se fome não pode justificar roubo de comida, como se pode matar e consumir outra pessoa”.

Penso que, é função do poder judiciário dar segurança a sociedade fazendo a justiça. Justiça essa que deve estar sempre vinculada aos princípios das leis escritas e dos direitos naturais mais essenciais, como o direito a vida. As leis devem estar sempre se atualizando para tentar se adequar a realidade da sociedade que irá mediar. Portanto, uma sentença adequada neste caso seria aplicar normas escritas previstas (leis), buscando analisar e respeitar os limites individuais do homem e sua real intenção. Seria um equilíbrio entre a aplicação da lei pelo enfoque dogmático, porém aplicando-a somente após uma analise zetética empírica pura e aplicada do fato.

O ato de se tirar uma vida é um fato, mas a forma e o motivo são variáveis. Como um soldado que mata na guerra outro homem recebe o respaldo das leis de guerra; o homem que na sociedade tira a vida de outro homem sem a intenção de vingança ou a mando de outrem, também merece uma análise mais humanizada no seu processo de reeducação penal. Matar é um ato moralmente condenável em nossa sociedade. Os preceitos do direito natural no que diz respeito à vida, baseados nos fundamentos de Rousseau, Hoobes e Locke, devem ser atemporais e não devem ser modificados em função da situação, da cultura ou do espaço.

Tendo como base as considerações anteriores, julgo os réus culpados pelo crime de homicídio, com pena a ser cumprida através de serviços comunitários e custeio das despesas da família da vítima (indenização).

Entendendo ser necessária a manutenção da pena em relação à infração, considerando-se como atenuante a situação psicológica extrema que os réus encontraram-se nos 32 dias de confinamento. Relativo ao caso fica evidente a tentativa de manutenção da vida dos cinco exploradores diante das reduzidas chances de sobreviver sem suprimentos. Por sentirem-se abandonados pelo Estado, buscaram através de um pacto uma forma de solucionar o conflito, numa maneira singular e não usual, mas que para a dada situação, foi por eles aceita como a mais “justa”. Hobbes define que o "estado de natureza" é sempre um estado de Guerra, que faz despertar o egoísmo que está na essência do homem. Desta forma é compreensivel a escolha feita, porém a ausência temporaria da tutela do Estado, não justifica uma conduta tão extrema como a de tirar a vida de uma pessoa, mesmo quando é firmado um acordo, pois deve-se considerar a possibilidade deste individuo haver escolhido tal alternativa numa situação de desespero, descaracterizando o ato consciente e racional de seus principios.

Dado o exposto, pode-se afirmar que esta obra tem grande valia para os estudantes de direito, uma vez que ela introduz a intima e conflitante relação dos princípios da ética e da moral frente ao positivismo da lei, clareando aos iniciantes desta ciência, a real importância da constante busca do saber e da prudência em sua trajetória acadêmica e posteriormente profissional.



[1] Apresenta comportamento canibal alimentando-se de carne humana.
[2] Thomas Hobbes e John Locke.
[3] Rousseau (O Contrato Social), T. Hobbes (O Leviatã) e J. Locke (o Segundo tratado sobre o governo civil).

Resenha Crítica de Fabrícia Santos LETRAS/FAAHF


BAGNO, Marcos. Pesquisa na Escola: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2004.


RESENHA CRÍTICA

Fábrícia Ferreira dos Santos, acadêmica de Letras da Faculdade Arnaldo Horácio Ferreira (FAAHF)


A obra “Pesquisa na Escola: o que é, como se faz”, de Marcos Bagno, doutor em Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo, escritor, poeta, tradutor e contista serve como um manual de conduta prática e reflexiva sobre o tema. Inconformado com o tratamento dado à pesquisa na escola, por meio de uma linguagem objetiva e direta fornece orientações valiosas sobre o papel da pesquisa, sua importância e como obter o máximo de rendimento dos educandos, de modo que esta não seja uma atividade puramente mecânica e sem propósito.

A referida obra apresenta o uso de explorações práticas e de fácil assimilação que propicia uma leitura prazerosa e instigante, que remete ao ambiente escolar e faz com que o leitor reviva experiências da infância e seja motivado a contribuir para a criação de uma nova realidade no espaço educacional, bem como no cotidiano, pois como o autor destaca, o simples ato de ler uma bula de remédio já se configura como uma pesquisa.

 A obra está dividida em dois capítulos que abordam tanto o aspecto conceitual como prático, com ênfase à pesquisa em língua portuguesa. Para tanto, o autor utiliza duas metáforas baseadas na mitologia grega para esboçar a realidade vivenciada pelos alunos desde o momento em que lhes é solicitada uma pesquisa até à sua concepção. “O Fio de Ariadne” remete à necessidade de orientação, aspecto pouco considerado quando o professor limita-se a informar apenas o tema e a data de entrega. Tal procedimento opõe-se categoricamente a ensinar a aprender, como propõe o autor. A independência de pensamento deve estar vinculada a uma fundamentação, pois a pesquisa científica tem valor significativo no desenvolvimento de uma nação.

Bagno (2004) aponta que esse tipo de trabalho só tem utilidade se seu propósito, objetivo e finalidade estiverem bem definidos, sendo necessário seguir determinadas etapas de um projeto, o qual deve conter: título, objetivo, justificativa, metodologia, produto final, fontes de pesquisa e cronograma. Partindo deste esquema, o autor usa como ilustração uma pesquisa sobre Monteiro Lobato. Desta forma, explora cada um dos tópicos e enfatiza a importância de escolher temas que sejam atrativos e despertem o interesse pela pesquisa. Sugere também que após a conclusão, os trabalhos fiquem acessíveis a outras pessoas como forma de incentivo e reconhecimento pelo esforço dos alunos. 

Outro ponto enfático desta obra baseia-se em “O fantasma de Procusto”, que salienta o autoritarismo e a consolidação de preconceitos que permeiam a educação tradicional. Para o autor, o ensino e a aprendizagem são aspectos multidimensionais de um processo de interação que devem ir além da sala de aula, são constantes e criam vínculos afetivos e intelectuais em que tanto o professor como o aluno se influenciam e se beneficiam da troca de experiências das suas vivências e conhecimentos adquiridos em momentos anteriores.

 Aliada a essa conscientização, a pesquisa torna-se fundamental para o aprofundamento do saber, por oferecer algo mais que simples informação. Para isso, a distância entre a escola e a comunidade deve ser cada vez menor, pois ao contrário do que prevalece no mito autoritário, a escola não é o lugar exclusivo do saber. Numa perspectiva franca e direta, Bagno evidencia que quem pensa que o conhecimento pode atingir um nível de estabilidade, está fadado ao atraso. Ao contrário, ensinar exige reflexão constante sobre o que se tem feito e os resultados atingidos.

A visão realista do escritor destaca que em relação à língua portuguesa, o ensino da gramática não acompanha os progressos da ciência da linguagem. Ao utilizar como exemplo o uso da crase, demonstra que o ensino baseado no “certo” ou “errado” dificulta o entendimento e aponta como alternativa a exploração do tema pelo contexto, propondo uma investigação científica de textos, que permitem o conhecimento além da frase.

 Outro aspecto interessante é a evidência de que é preciso saber separar a língua escrita da língua falada. Neste sentido, o autor critica veementemente o ensino de conteúdos sem utilidade prática que servem apenas para confundir os alunos. Por essa razão, recomenda a troca da repetição pela reflexão, já que a gramática tradicional configura-se mais como doutrina do que como ciência.

 Assim exposto, pode-se concluir com esta obra, parte integrante de tantas outras de igual relevância, que Bagno contribuiu significativamente para o entendimento da real importância da condução adequada da pesquisa na escola, dada a necessidade indiscutível de promover o conhecimento autônomo, libertador, desprendido dos preconceitos linguísticos de um sistema educacional que está na lista dos piores do mundo.

Por fim, a obra enfatiza que é preciso mudar esta realidade, mas enquanto os professores forem meros repetidores da gramática e o governo persistir no descaso com a educação, não há muito que esperar. Para quem quer fazer a diferença, “Pesquisa na Escola: o que é, como se faz”, apresenta-se como uma profícua sugestão de leitura.