quarta-feira, 21 de julho de 2010

O ser humano e a subjetividade, numa análise do filme de Jorge Furtado “Ilha das Flores”, por Aderlan Messias de Oliveira

O ser humano e a subjetividade, numa análise do filme de Jorge Furtado “Ilha das Flores”



Aderlan Messias de Oliveira - acadêmico do 4º semestre de Direito/FASB 2008.2



O documentário do filme de curta-metragem “Ilha das Flores” traz, em sua essência, uma temática bastante visível hoje na nossa sociedade: a desigualdade social. Esta, enquanto existir será causa de grande miséria, fome e exclusão social que usurpa do cidadão sua isonomia, e, conseqüentemente, sua dignidade humana.

“Ilha das Flores”, a princípio, apresenta o percurso do tomate em diferentes fases de sua existência: ao ser plantado, colhido, transportado e vendido num supermercado, bem como apodrecer e ser jogado fora. É interessante destacar que, neste último ponto em que chega o tomate, o filme realmente apresenta o seu objetivo. O tomate podre e jogado no lixo é recusado pelos animais (porcos) servindo de alimento somente às pessoas (mulheres e crianças) que vivem em condições subumanas.

Neste contexto, pode-se depreender que, o ser humano, ao chegar a comer a lavagem dos porcos e com estes disputarem o mesmo alimento, é afirmar que tais animais comem melhor que os homens, uma vez que lavagem é comida somente de porcos. Assim, questiona-se o porquê de o ser humano chegar a este extremo. Na verdade, vê-se que desde que a sociedade existe, com ela também há a exclusão social e a miséria, onde o próprio homem negligencia o homem, ou seja, somente àqueles que lutam e buscam um futuro melhor conseguem ter uma vida digna, ao contrário daqueles que, por “sorte” da própria vida, não conseguem ascender-se socialmente, sendo sujeitos às mazelas que a sociedade oferece.

Não se pode culpar que a existência da miséria e do miserável é conseqüência da “sorte” ou de não ter lutado por uma vida melhor. A culpa maior está em a sociedade não oportunizar melhores condições de vida a este cidadão, em tirar-lhe o direito de ser “igual diante dos iguais”, com trabalho, moradia, saúde, educação, lazer e tantos outros direitos que o próprio ordenamento jurídico os resguarda. Daí dizer que o Direito possui eficácia, porém lhe falta efetividade.

Sabe-se que o indivíduo é livre para decidir seu próprio destino, estaria jogado à própria sorte como se os ditames desta estivessem dados não pelo mundo social, mas por sua vontade plena e soberana. O que se sabe é que a sorte é oriunda da sociedade e não de um mundo transcendental. Se o fosse, estaria reinstaurada a crença de que a subjetividade seria prenúncio e garantia da liberdade de construção do destino individual possível a todos que queiram e se disponham a isso. Assim, os insucessos seriam atribuídos à incapacidade e merecimento do próprio indivíduo isolado. Claro está que essa compreensão vela o fato de que a sorte individual não é construída pelo próprio indivíduo, vez que já estava social e historicamente lançada antes mesmo da sua escolha.

Neste sentido, mister se faz estabelecer um contraponto com o poema de Manuel Bandeira “O Bicho”. Este reporta exclusivamente como o homem, por falta de oportunidade está condenado a viver como um animal qualquer, alimentando-se das sobras que são jogadas fora, se assim o quiser sobreviver. E a sociedade, o que faz? Nada. Assiste a tudo de forma passiva e incoerente.

Por último, cabe elencar algumas críticas acerca do ser humano e sua subjetividade. Quantos brasileiros, pelo fato de terem uma vida estruturada e estabilizada desperdiçam alimentos todos os dias, não tendo a consciência que muitos de seus irmãos estão passando fome, comendo o resto que cai da mesa do rico. Outros acreditam que a sociedade é assim mesmo e que não há nada a se fazer. O fato é que estas pessoas que pensam assim são apenas telespectadoras e não protagonistas desta realidade cruel. Destarte, viver sem pensar na gratuidade, na generosidade e nas necessidades dos outros é simplesmente comportar-se também como um animal, animal este predador que não se alimenta de comida podre, mas da própria miséria humana.

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