quarta-feira, 21 de julho de 2010

Análise crítica do documentário “Falcão: Meninos do Tráfico”, por Aderlan Messias de Oliveira

Análise crítica do documentário

“Falcão: Meninos do Tráfico”

Aderlan Messias de Oliveira -acadêmico do 4º semestre de Direito

MsC Nelson Gomes de Santana Silva e Júnior - professor da disciplina de Psicologia Jurídica



“Falcão: Meninos do Tráfico” é um documentário que retrata a vida de meninos de favelas que tiveram sua infância roubada pelo tráfico de drogas. Tal tema “falcão” designa-se àquele que têm a tarefa de vigiar a comunidade e informar quando a polícia ou algum inimigo se aproxima. O objetivo deste relato é mostrar o outro lado da sociedade que fica esquecido pelos governantes e pela própria justiça. Assim, busca-se, ainda, com este documentário, chamar a atenção da população para a realidade das crianças e jovens de comunidades pobres frente a este problema.

Como se sabe, historicamente, as grandes cidades foram construídas mediante interesses da elite que, aos poucos, foram expulsando os moradores de suas casas para que se construíssem no local prédios e lojas, ficando estes obrigados a morarem em morros e, assim constituindo uma sociedade excluída e marginalizada.

É neste contexto que milhares de pessoas vivem, que pais de família criam seus filhos, que crianças aprendem desde sedo a comercializar e usar drogas. Assim, é possível afirmar que estar no mundo das drogas não é uma opção, não é um querer, mas sim um meio de ganhar dinheiro para sustento da família. Algumas das crianças entrevistadas afirmaram que o crime é um negócio difícil e que ser bandido não é fácil e sem trabalho são sujeitos ao tráfico. Outros são mais otimistas, acreditam que um dia será um cidadão do bem, que terá uma família e um emprego justo. Porém, fica-se a pergunta: haverá tempo? Na maioria dos casos, não. Prova disso é que durante as gravações, 16 dos 17 “falcões” entrevistados morreram, sendo 14 em apenas três meses, vítimas da violência na qual estavam inseridos. Seus funerais também foram documentados. O único sobrevivente foi empregado pelos produtores mas acabou voltando para o tráfico até ser preso.

Cumpre ressaltar, em alguns momentos do documentário a angústia, a revolta e a dor de crianças que justificam serem traficantes porque não têm família; não conhecem os pais; têm pais violentos; pais que foram assassinados, etc. Nesta vertente, tem-se o comportamento delas condicionado exclusivamente ao meio em que estão inseridas. Umas dizem ainda que o homem bom é aquele que tem a arma na mão. Este tem prestígio e valor. Outras, quando perguntadas do que queriam ser quando crescer, responderam que queriam ser bandidos. Depreende-se a tais colocações a gravidade do problema a qual o país tem enfrentado. São estas crianças que farão parte do crime organizado, tornando-se os maiores traficantes e bandidos do futuro. Isso se sobreviverem.

Em contrapartida, mister se faz destacar ainda a atuação dos policiais diante da criminalidade nas favelas, haja vista fazer parte de uma instituição que busca coibir a violência e a marginalidade. Sabe-se que na prática a realidade é diferente. Quantos policiais não estão envolvidos com traficantes. Estes ficam livres para a comercialização das drogas com auxílio daqueles que se dizem assegurar a ordem da sociedade. Como relatam alguns, “os policiais são safados, querem apenas dinheiro”. Caso não tenham e/ou não dêem dinheiro aos policiais, são mortos sem dó nem piedade. É a lei do interesse pessoal que vigora.

Abstrai-se, então, que há muito precisa ser feito. A sociedade urge por melhores condições de vida, por educação, trabalho e vida digna. Não há como vendar os olhos e fingir que tal realidade não existe. É necessário repensar no conceito que se tem de humanidade. O Brasil não pode viver no paradoxo de que é um país rico, que o cidadão tem seus direitos respeitados. Como bem defende um dos entrevistados, “temos dois ‘brasis’: um está sendo mais investido que o outro e o esquecido está virando monstro.”

Dado o exposto, conclui-se que ninguém se torna bandido porque quer, pois do crime não se desfruta nada, a não ser a cadeia, a cadeira de roda ou a própria morte. Reverter este quadro é missão de todos, basta que não se olhe os favelados como bandidos, como miseráveis despresíveis. É preciso que se construam projetos que acolham as crianças, adolescentes e jovens e que dêem a eles o direito de serem futuros cidadãos construtores da ordem, do amor e da paz.

Um comentário:

  1. Adorei , uma boa analise do documentario, onde deixou de forma bem clara os acontecimentos e fatos ocorridos no doc. parabens

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